quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O ENCAMINHAMENTO DO DEFICIENTE VISUAL NO MERCADO DE TRABALHO

Este estudo faz um levantamento de um conjunto de diversas profissões que podem ser exercidas pelas pessoas cegas e de visão subnormal, especificando pré-requisitos e atribuições das mesmas, visando auxiliar no encaminhamento profissional do portador de deficiência visual ao mercado de trabalho; faz menção aos atuais recursos ópticos e técnicos que podem ser utilizados na facilitação do desempenho funcional do deficiente visual; obedece a objetivos específicos e princípios metodológicos e apresenta sugestões e recomendações para viabilização das propostas encaminhadas no estudo.

Apresentação
A dificuldade de colocação profissional, que hoje é enfrentada por uma parcela significativa de brasileiros, com relação ao deficiente visual é agravada pela infundada crença da maioria dos empregadores ao considerarem que a deficiência afeta todas as funções do indivíduo. Além disso, desconhecendo as diversas atividades possíveis de serem realizadas pelo deficiente, receiam dificuldades de integração com o grupo de trabalho, temem a ocorrência de acidentes e preocupam-se com o custo de adaptações e aquisição de equipamentos especiais.

Outro fator primordial é a falta de qualificação profissional de considerável número de deficientes visuais, ocasionada pela ausência de ações voltadas para a preparação profissional dos deficientes, e pela dificuldade de acesso dos mesmos aos cursos existentes.

No decorrer do tempo, as autoridades vêm se preocupando com a problemática do desemprego no que tange ao deficiente; neste contexto, o Instituto Benjamin Constant não poderia se eximir, uma vez que lhe compete, entre outras atribuições, promover o encaminhamento profissional da pessoa portadora de cegueira ou de visão subnormal e desenvolver programas de divulgação e intercâmbio de experiências e inovação na área do atendimento da pessoa deficiente visual.

A partir das premissas acima, foi criado, no âmbito do Departamento Técnico-Especializado do Instituto Benjamin Constant, através da Portaria/IBC nº l39, de 27/11/95, um grupo de trabalho interdisciplinar composto de dois (02) psicólogos, um (01) assistente social e um (01) professor especializado em reabilitação, com a finalidade de proceder a um estudo voltado para a preparação e encaminhamento profissional das pessoas deficientes visuais.

Na realização deste estudo, foram analisadas cerca de 440 profissões de diversos níveis de escolaridade e qualificações profissionais. Como resultado, obteve-se a indicação de 95 ocupações, compatíveis com o desempenho das pessoas deficientes visuais, bem como os respectivos pré-requisitos, a condição visual para a sua execução e a síntese das atribuições. Além destas, são apontadas diversas profissões autônomas nas áreas rural, artesanal, de produtos caseiros, industrial e comercial. São indicados cursos complementares que habilitam ao exercício profissional e à abertura do próprio negócio. Ações práticas para viabilizar a execução das propostas apresentadas são também sugeridas.

Na análise das profissões foram considerados, como elemento facilitador no desempenho de funções compatíveis com a deficiência visual, os atuais recursos ópticos, técnicos e ambientais disponíveis no mercado, graças ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Ao realizar o presente trabalho, o grupo designado preocupou-se em congregar, em um único documento, todo um universo de informações referentes à preparação e encaminhamento profissional das pessoas deficientes visuais, objetivando oferecer aos serviços que atuam nessa área instrumento para minimizar as dificuldades encontradas, bem como esclarecer e orientar os empregadores quanto à capacidade produtiva dos deficientes visuais.

O grupo deixa aqui expresso o seu reconhecimento a todas as pessoas que, indiretamente, colaboraram na realização deste trabalho.

Objetivos
Os objetivos do presente trabalho são:

propiciar o desenvolvimento de ações destinadas à preparação para o trabalho;
diversificar o campo de atuação das pessoas deficientes visuais no mercado de trabalho;
divulgar material a ser utilizado como elemento facilitador na preparação e encaminhamento profissionais;
esclarecer e orientar os empregadores com relação às reais potencialidades dos deficientes visuais;
facilitar o encaminhamento das pessoas portadoras de deficiência visual ao mercado de trabalho.
Metodologia
O estudo foi executado de acordo com as seguintes estratégias preconizadas no projeto e com as alterações que se fizeram necessárias:
contatos com serviços que atuam na área de encaminhamento profissional de deficientes, objetivando obter informações referentes à situação atual da colocação dos mesmos no mercado de trabalho;
contatos com empresas que atuam na área de seleção e encaminhamento profissionais, objetivando a coleta de dados referentes às profissões requisitadas atualmente pelo mercado de trabalho e descrição das atividades e exigências de cada profissão;
pesquisa das vagas de emprego oferecidas pelas empresas em jornais de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro;
contatos com profissionais, deficientes visuais ou não, que atuam no mercado de trabalho, a fim de obter informações a respeito das atividades por eles desenvolvidas;
análise das tarefas que compõem as funções oferecidas e compatibilização das mesmas com as possibilidades de atuação das pessoas deficientes visuais. Na execução desta etapa, fez-se necessário contato com empresas para avaliar a eficiência do deficiente visual no desempenho das tarefas exigidas no exercício de determinada profissão.

Para a realização do presente trabalho foram considerados os conceitos de cegueira e de visão subnormal, que constam no item seguinte.

Considerações teóricas
“A cegueira total ou simplesmente amaurose, pressupõe completa perda de visão. A visão é nula, isto é, nem a percepção luminosa está presente” (1). Assim sendo, a pessoa cega utiliza-se do Sistema Braille para realizar a comunicação escrita.

Visão subnormal é uma perda significativa da visão que não pode ser corrigida por tratamento clínico ou cirúrgico nem por óculos convencionais. O portador de visão subnormal, dependendo da patologia, apresenta comprometimentos relacionados à diminuição da acuidade visual e/ou campo visual, à adaptação à luz e ao escuro e à percepção de cores”(2). Entende-se por acuidade visual “uma medida da capacidade de distinguir claramente os mínimos detalhes” e, por campo visual, “a área do espaço físico visível quando o corpo, a cabeça e os olhos estão numa posição estacionária, frente ao estímulo observado” (3).

No entanto, “as medidas de acuidade visual não têm um valor fixo, mas podem diferir entre indivíduos com condições semelhantes nos olhos, e ainda no mesmo indivíduo em situações variadas” (4).

Com base nesse preceito, grande número de oftalmologistas, educadores e outros profissionais, que atuam no atendimento à clientela de visão subnormal, têm evidenciado as possibilidades de maior eficiência no funcionamento visual com utilização máxima da visão remanescente. A prática vem comprovando que o portador de visão subnormal pode, através da utilização máxima da sua visão remanescente e de recursos ópticos e não ópticos, ter um melhor desempenho nas suas atividades. Devemos salientar, todavia, que nem todos os portadores de visão subnormal necessitam de recursos ópticos, podendo utilizar-se de recursos técnicos e complementares. A utilização de recursos ópticos dependerá da necessidade individual.

Convém acrescentar que, para as pessoas portadoras de visão subnormal, o fator mais importante de auxílio é o de magnificação da imagem, possível graças aos diversos recursos conhecidos.

(1) ROCHA, H. e outros. Ensaio Sobre a Problemática da Cegueira.
(2) CARVALHO, K.M.M. e outros. Visão Subnormal - Orientação ao Professor do Ensino Regular.
(3) REVISTA BENJAMIN CONSTANT nº 01.
(4) BARRAGA, N.C. Programa para Desenvolver a Eficiência no Funcionamento Visual.

Recursos ópticos, técnicos e complementares

Os principais recursos disponíveis para facilitar o desempenho do deficiente visual (cego ou de visão subnormal) são:

Recursos ópticos :
Telessistemas - magnificam a imagem de longe e reduzem o campo visual. Úteis para observação estática.
Lentes asféricas - diminuem as aberrações das lentes de graus mais elevados, utilizados na visão de perto e de longe.
Lupas manuais e réguas plano-convexas - são compostas por lentes convergentes de diversos formatos e capacidade de aumento. Quanto mais perto do olho a lupa estiver, maior é o campo visual e vice-versa.
Lupas de mesa com iluminação - são lentes convexas montadas num suporte que fixa a distância entre a lente e a folha ou o objeto a ser visualizado.
CCTV - (sistema de circuito fechado de televisão) aumenta os ortóptipos de leitura e escrita até 60 vezes, podendo variar o contraste. É útil para quem necessita de maior distância para ler, escrever, desenhar ou datilografar.

Recursos técnicos :
Sistema sonoro de comunicação com o microcomputador - no Brasil, o sistema mais utilizado é o DOSVOX, desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ.
DOSVOX - sistema destinado a auxiliar o deficiente visual no uso de microcomputadores da linha PC, através de sintetizador de voz. O DOSVOX possui as seguintes ferramentas computacionais:
um sintetizador de voz de bolso para microcomputador que permite ao deficiente visual ter acesso a qualquer computador compatível com IBM-PC, mesmo que ele não possua placa de som;
sistema operacional complementar ao DOS, destinado a produzir saída sonora;
sistema de fala em língua portuguesa;
editor e leitor de textos;
diversos programas de uso geral para o cego, como, por exemplo, caderno de telefones, agenda de compromissos, calculadora, etc.;
ampliador de tela para o DOS;
programa de telecomunicações, que permite ao deficiente visual transmitir informações e/ou arquivos para uma outra pessoa, computador ou fax, através de linha telefônica. Pode-se também ter acesso à Rede Internet gratuitamente através da Rende - Rede Nacional de Deficientes (em acordo com a Rede Nacional de Pesquisas).

Impressora braille - periférico que imprime textos em braille.
Scanner - periférico que decodifica impressos em escrita comum, permitindo ao deficiente ler textos que tenham sido digitalizados para o disco rígido ou disquete.
Braille n’speak - aparelho portátil que funciona como agenda eletrônica, editor de textos e cronômetro. Conectado a um PC, funciona como sintetizador de voz, transmite e recebe arquivos. Acoplado a uma impressora comum ou braille, imprime textos armazenados.
Calculadora sonora - anuncia os números, as funções e os resultados das operações efetuadas.
Estante para leitura - suporte de mesa que permite ajustar a distância e o ângulo adequados para a leitura de livros, textos, etc.
Caneta óptica - dispositivo artesanal montado em caneta Pilot, contendo célula fotoelétrica e circuito que transforma a luminosidade em som emitido por pequeno alto-falante. Útil para detecção de luz.

Recursos complementares:
reglete, punção, máquina PERKINS, réguas e metros adaptados, sorobã;

máquina de datilografia com tipo ampliado;
caneta de ponta porosa, lápis de escrever 6B, suporte para leitura, etc.;
cadernos e papéis com pautas especiais, letras ampliadas e cores contrastantes;
controle da iluminação ambiental: aumentando-se ou diminuindo-se focos luminosos para objetos, folhas de trabalho, textos, etc.;
transmissão da luz, com auxílio de lentes absortivas e filtros que diminuem o ofuscamento e aumentam o contraste.

Recomendações
Para viabilizar a execução das propostas aqui apresentadas, recomenda-se o seguinte:
criação de uma equipe técnica interdisciplinar (psicólogo, assistente social, professor, orientador vocacional) conhecedora das potencialidades e limitações das pessoas deficientes visuais;
realização de cadastramento das pessoas portadoras de deficiência visual, contendo informações a respeito da formação, aptidão, interesse e experiência profissional das mesmas;
contato com as empresas, objetivando:
a) verificar se a empresa possui, em seu quadro, um histórico de aproveitamento de deficientes visuais;
b) ouvir e esclarecer as preocupações dos empregadores quanto à contratação ou manutenção de pessoas deficientes visuais no emprego;
c) realizar o levantamento das vagas existentes e analisar os requisitos de emprego e as condições de trabalho;
d) verificar dentre as vagas oferecidas aquelas compatíveis com as possibilidades de atuação das pessoas deficientes visuais;
e) orientar os empregadores quanto às possíveis aquisições, adaptações e utilização de recursos técnicos, ópticos e ambientais que facilitam o desempenho do deficiente visual no exercício de uma função;
f) divulgar junto aos empregadores a efetiva capacidade profissional das pessoas deficientes visuais.

pré-seleção dos candidatos que preencham o perfil exigido para a vaga oferecida;
encaminhamento dos candidatos para avaliação na empresa;
apoio técnico na fase de adaptação do deficiente visual na empresa e conseqüente acompanhamento no decorrer do processo;
indicação e/ou organização de cursos voltados para a formação e qualificação profissional;
indicação e/ou organização de cursos e/ou palestras complementares sobre noções de apresentação pessoal, relacionamento interpessoal, responsabilidade, pontualidade, produtividade, legislação trabalhista, hierarquia, direitos e deveres;
realização de pesquisa de mercado voltada para a realidade local;
orientação à pessoa que pretende atuar como autônoma ou abrir seu próprio negócio;
contato com serviços que atuam no encaminhamento profissional de deficientes visuais a fim de promover o desenvolvimento de ações integradas.

Conclusão
O portador de deficiência é uma pessoa como as demais, com preferências, habilidades, aptidões, dificuldades, interesses e capacidade produtiva. Necessita apenas de oportunidade para desenvolver suas potencialidades.

No campo da atividade profissional no Brasil, seja na área comercial, industrial ou rural, existem profissões compatíveis com o desempenho do deficiente visual, nos diversos níveis de formação. Tais profissões podem ser exercidas pelo deficiente na qualidade de empregado, profissional autônomo ou como empresário.

Convém ressaltar a importância do desenvolvimento de ações voltadas para a preparação para o trabalho. Se a pessoa que está ingressando no mercado de trabalho não adquiriu a experiência profissional normalmente exigida, a habilitação torna-se imprescindível. Estas ações podem ser desenvolvidas tanto a nível de organização de cursos quanto de encaminhamento para os já existentes no mercado.

Ao concluir este estudo, espera-se propiciar aos serviços, que atuam na área de encaminhamento profissional, o desenvolvimento de ações práticas que permitam ao deficiente visual conquistar seu direito ao trabalho e, conseqüentemente, atingir sua independência financeira, auto-realização e integração social.

Este não é um trabalho acabado, devendo o mesmo ser aperfeiçoado. O grupo está, portanto, aberto a sugestões e críticas.

Marcia Lopes de Moraes Nabais - Psicóloga e coordenadora do grupo;
Carmen Lucia Alves Martins - Psicóloga;
Margarida Aguiar Monteiro - Professora especialista em reabilitação
Waldemar Gonçalves Galheira - Professor e assistente social.
Revisão do texto: Irene Edreira Martins

6 comentários:

Acylina Campos. disse...

Paola
Após leitura do material postado no seu blog, pude conhecer a gama de recursos que existem para facilitar o portador de deficiência visual. Que bom que existe tecnologia preocupada em ajudar essas pessoas e com isso facilita a entrada no mercado de trabalho que é o tema da pesquisa. Muito bom. Acylina

Gestionando a escola disse...

Que bom ! estamos precisando com urgência que o deficiente visual entre com mais facilidade no mercado de trabalho.

Biblioesco disse...

Paola
Sabemos da dificuldade do DV ingressar no mercado de trabalho, mas lendo o seu blog pude ver que hoje em dia existem milhares de recursos que acabam facilitando esses deficientes e ajudando-os a trabalhar e se sentirem importantes e valorizados.

Leitura Imagética disse...

Paola

Concordo plenamente com sua preocupação em favor dos deficientes visuais, pois há ainda no mercado de trabalho preconceitos que excluem não só o visual como outras necessidades especiais. Devemos lutar para que preconceitos sejam banidos e atitudes cidadãs apareçam como forma de viver num mundo diferentes sim incapaz não . Lúcia Xavier

Leitura Imagética disse...

Paola

Concordo plenamente com sua preocupação em favor dos deficientes visuais, pois há ainda no mercado de trabalho preconceitos que excluem não só o visual como outras necessidades especiais. Devemos lutar para que preconceitos sejam banidos e atitudes cidadãs apareçam como forma de viver num mundo diferentes sim incapaz não . Lúcia Xavier

Leitura Imagética disse...

Paola

Concordo plenamente com sua preocupação em favor dos deficientes visuais, pois há ainda no mercado de trabalho preconceitos que excluem não só o visual como outras necessidades especiais. Devemos lutar para que preconceitos sejam banidos e atitudes cidadãs apareçam como forma de viver num mundo diferentes sim incapaz não . Lúcia Xavier